Encaixes da reforma ministerial passam pelo Congresso; entenda

Praticamente resolvida a troca de Nísia Trindade por Alexandre Padilha no Ministério da Saúde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cuida, agora, da coordenação política de seu governo, em meio a uma queda de braço entre o PT e os partidos aliados pelo cargo de ministro da Secrretaria de Relações Institucionais. Escaldado desde o governo de Dilma Rousseff, os petistas resistem a abrir o espaço do Palácio do Planalto a outras legendas — e foi esse o sentimento captado na festa de 45 anos do PT, sábado, no Rio de Janeiro.
Porém, há uma avaliação interna no governo de que Lula precisa ter, no Planalto, alguém que tenha mais liberdade com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Em tese, isso permitiria ao presidente recolocar seu relacionamento com os comandantes das duas Casas no mesmo nível de seus mandatos anteriores.
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O PT tem dúvidas sobre isso. O partido não se esquece de que, em abril de 2015, entregou a coordenação política do governo Dilma ao então vice-presidente Michel Temer. Há dentro do partido quem diga, reservadamente, que ali — e sob os cuidados do então ministro da Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República, Eliseu Padilha — surgiu o mapa político de aliados então insatisfeitos com o governo que serviu para desencadear o processo de impeachment. Ainda que Temer tenha dito que não participou de articulação alguma, muita gente no PT não acredita nele. Por isso é que, na atual gestão de Lula, a legenda exigiu que seus integrantes ocupassem os postos no coração do governo.
A preferência de integrantes do PT é de que Lula nomeie para o lugar de Padilha na Secretaria de Relações Institucionais alguém do partido, como o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE). Porém, não resolveria o problema de proximidade com os presidentes das casas legislativas. O nome do senador Jaques Wagner (PT-BA) também foi lembrado, mas, nesse caso, não facilitaria a convivência com a Câmara dos Deputados.
Diante da necessidade de abrir um lugar no Planalto para aliados, Lula passou a listar o que um novo ministro teria de resolver. O primeiro ponto é azeitar a relação com o Centrão e, aí, entra a aproximação com Motta e Alcolumbre. Identificado o objetivo, é ver quem tem perfil para assumir a tarefa.
Foi assim que se chegou ao nome do ministro de Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, do mesmo partido que o presidente da Câmara e com o qual tem relação de proximidade. Outro que entrou no rol de “resolvedor” é o líder do MDB, deputado Isnaldo Bulhões (AL).
Isnaldo esteve, inclusive, cotado para ser candidato ao comando da Câmara. Quando soube que o candidato seria Motta, disse que não iria concorrer contra “um irmão”. É um dos mais próximos do presidente da Câmara. E há, no MDB, uma insatisfação pela falta de um representante da bancada de deputados no primeiro escalão do governo. Hoje, os ministros do MDB são Jader Filho (Cidades) e Renan Filho (Transportes) — numa negociação com os senadores do partido —, além de Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), que concorreu ao Palácio do Planalto em 2022 e apoiou Lula no segundo turno. Ela é vista entre emedebistas como uma escolha pessoal de Lula.
Nos últimos dias, houve muita gente citando, nos bastidores, o nome do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, do PSD de Minas Gerais, as Relações Institucionais. Seria a forma de Lula liberar a pasta de Silveira para uma indicação de Alcolumbre e, como ato contínuo, atrelar um pouco mais o PSD de Gilberto Kassab ao governo. Essa manobra também é vista como um fator de ajuste na relação com a Câmara.
Lula passa esses dias conversando com alguns aliados sobre esse assunto. Muitos consideram que o PT tem espaço demais no governo e que terá que ceder aos aliados. Porém, a avaliação é a de que não dá para abrir outros espaços, sob pena de abrir demais a guarda para 2026. Afinal, o partido, conforme foi dito na festa do 45º, no sábado, passou por muitos problemas e sobreviveu. Reforma ministerial ajuda na governabilidade e na melhoria dos índices de popularidade, mas o remédio mais eficaz é a população perceber que o governo entrega o que prometeu e que age para não aumentar a carga de sacrifícios imposta ao cidadão-contribuinte-eleitor.