Medo de ir à igreja e tensão nos grupos de WhatsApp: a mudança de rotina dos imigrantes brasileiros nos EUA

A caixa de mensagens do influenciador mineiro Junior Pena, popular entre a comunidade de imigrantes brasileiros nos Estados Unidos, tem se enchido na última semana com relatos de famílias vivendo assustadas no país.
São pessoas que mudaram a rotina, passaram a evitar sair de casa e até cogitam voltar o mais rápido possível ao Brasil diante das notícias do cerco do presidente Donald Trump a imigrantes sem documentos, conta Pena, que tem mais de 1 milhão de seguidores no TikTok e vive nos EUA há 15 anos.
O efeito das promessas de endurecimento das políticas de deportação e anúncios de blitz para capturar imigrantes irregulares também já pode ser sentido em ambientes frequentados pela comunidade brasileira, como mercados e igrejas evangélicas, segundo relatos ouvidos pela BBC News Brasil.
“Os cultos estão bem mais vazios, as pessoas estão com medo até de ir para a Igreja”, diz Fernanda*, estudante brasileira que uma das cidades americanas que mais concentram brasileiros.
“Os cultos estão bem mais vazios, as pessoas estão com medo até de ir para a Igreja”, diz Fernanda*, estudante brasileira que uma das cidades americanas que mais concentram brasileiros.
Desde que assumiu o cargo em 20 de janeiro, Trump anunciou uma série de ordens executivas relacionadas à imigração, abrindo caminho para um esforço generalizado de repressão a migrantes sem documentos nos EUA.
Em mais de 21 ações, Trump tomou medidas para reformular partes do sistema de imigração dos EUA, incluindo como os migrantes são processados e deportados do país.
Entre essas novas regras, está a liberação da detenção de imigrantes em igrejas, escolas e clínicas. Além disso, agentes como os policiais do Departamento Antidrogas do país ou os Marshals, como são conhecidos alguns agentes federais de busca a foragidos, receberam ordens para também fazerem a detenção de imigrantes irregulares.
Em declarações à imprensa, membros do governo americano e a Casa Branca têm dito que o foco das operações são imigrantes “criminosos” que ameaçam “a segurança pública e a segurança nacional”.
Mas são os relatos sobre pessoas que não cometeram crimes nos EUA, mas foram detidas mesmo assim, que têm assustado a comunidade brasileira.
Na quinta-feira, por exemplo, o prefeito de Newark (Nova Jersey), Ras Baraka, um democrata, afirmou em um comunicado que agentes do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE) “invadiram um estabelecimento local… detendo residentes sem documentos, bem como cidadãos, sem apresentar um mandado.”
A CBS News, parceira da BBC nos EUA, reportou a história de uma mulher venezuelana detida em uma operação em Miami. Ela estava no meio do processo para conseguir a cidadania, com data marcada para audiência, disse o seu marido.
Nesta terça-feira (28/1), a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse em sua primeira coletiva de imprensa do novo governo que qualquer pessoa que tenha migrado irregularmente para os EUA é um “criminoso”.
“Se eles violaram as leis da nossa nação, eles são criminosos”, disse ela.
Leavitt acrescentou que Trump quer que todos os imigrantes ilegais sejam removidos — desde estupradores e assassinos até migrantes sem documentos e sem registros criminais.
Medo de estar ‘no lugar errado, na hora errada’
Os brasileiros entrevistados pela BBC News Brasil repetiram com frequência que o governo Trump de fato está em busca de imigrantes “criminosos”, e não dos “trabalhadores”, como foi dito ao longo da campanha do republicano.
Mas as mensagens que chegam pelo WhatsApp têm alertado sobre o chamado “dano colateral”, um termo usado por autoridades americanas para designar imigrantes sem documentos, mas sem ficha criminal, que acabam sendo levados junto aos alvos primários dos agentes atualmente, aqueles com crimes pregressos.
“As pessoas estão bem assustadas e com muito medo. E a gente tenta cuidar, ver com quem está trabalhando, com quem está andando, porque se estiver próximo a alguém que tem problema, vai acabar sendo um dano colateral, né?!”, diz Dinorah*, moradora da Carolina do Norte que entrou no país com um visto de turismo e nunca mais partiu.
“Eu acredito que eles querem pegar bandidos para deportação. Mas se você estiver no lugar errado na hora errada, vai ser pego”, completa Ricardo*, brasileiro que é acompanhado por milhares de imigrantes nas redes sociais.
O brasileiro diz que a orientação de advogados com quem conversou é não ir a lugares com muitos imigrantes e evitar conviver com pessoas cujo passado ou ficha criminal você não conhece.
“Se você mora numa casa com muitos imigrantes, eles podem ir lá pegar uma pessoa e levar todo mundo que está dentro da residência”, diz Ricardo.
Uma semana após a posse de Trump, Rafael*, um brasileiro sem documentos que vive na Flórida, teve reunião com a advogada responsável por sua defesa nos processos de migração na Justiça dos EUA.
“Ela nos disse que não é para ir a supermercado brasileiro, festa de imigrante, evitar qualquer aglomeração, né?!”
A rotina dele atualmente se resume ao deslocamento entre sua casa e os locais de trabalho, que variam.
Evangélico, ele diz que o “medo aumentou” desde a posse de Trump, mas que “seja feita a vontade de Deus”.
Nas conversas com a comunidade brasileira, o influenciador Junior Pena também tem falado sobre “andar pisando em ovos”.
Ou seja, que os brasileiros tentem não chamar a atenção, inclusive no trânsito: “Digo para dirigir no limite de velocidade, não furar o sinal vermelho”, diz Pena, que além de influenciador, atua na construção civil e vive no país sem documentos.
Mesmo estando há 15 anos nessa situação, Pena diz que leva uma vida “normal”, podendo viajar de férias em voos internos, tirar carteira de motorista e alugar casas.
Mas, agora, os planos também mudaram. “Eu tinha viagem marcada para visitar o Alasca, mas não vou mais. Não é o momento para a gente entrar no avião”, conta.
O novo momento vivido nos EUA tem afetado até aqueles que estão com a documentação em dia.
Fernanda, que estuda teologia e vende comida brasileira em Massachusetts, diz que ela própria diminuiu a frequência de ir à igreja.
“A gente nunca sabe o que pode acontecer”, reflete a brasileira, que diz ter percebido o templo se esvaziar.
Um pastor brasileiro com atuação em Orlando, que preferiu falar à BBC News Brasil reservadamente para não se associar ao tema, disse que a sua igreja “não recomenda nem estimula ninguém a vir aos Estados Unidos sem as devidas autorizações” e que até por isso não oferece auxílio jurídico aos fiéis em situação irregular no país.
“Lógico que causa pânicos nas pessoas, grande parte imigrante sem documento, que não são criminosos nem delinquentes”, diz o pastor, que afirma: “Depende do lado que se vê: para o cidadão americano que se viu mais pobre e inseguro, [as deportações] podem parecer ‘precaução’. Para os imigrantes indocumentados: tragédia, sem dúvida”, afirma.
‘Dias de terror psicológico’
O influenciador Junior Pena acredita que essa primeira semana de Trump tem sido dias de “terror psicológico” para a comunidade de imigrantes brasileiros.
O nível de tensão das pessoas aumentou após virem à tona notícias sobre maus tratos contra brasileiros no voo com deportados no último sábado (25/1).
Uma brasileira em Massachusetts escreveu uma mensagem à BBC News Brasil dizendo que está “por um triz de pegar meus filhos e ir embora”.
“Ninguém quer passar por aquilo, ficar acorrentando, sofrer no calor, ainda mais com filhos pequenos”, opina Pena.
“A gente tem ouvido falar que serão 100 dias de puro terror, que Trump vai mostrar a força que ele tem e fazer o que prometeu, que é a deportação”, completa o influenciador.
O mesmo prazo é citado por Ricardo: “Depois de uns 100 dias, a vida vai voltar a ter mais normalidade”.
Para Igor*, de Utah, está havendo um certo pânico desmedido em relação a tais batidas da migração. “Ficam o tempo todo no grupo de zap dizendo que o ICE [Serviço de Imigração e Alfândega] está aqui, que o ICE está ali. Bobagem”, diz ele.
Outros brasileiros com quem a BBC News Brasil conversou relatam que os grupos de WhatsApp estão fervilhando com vídeos de supostas blitzes policiais para pegar imigrantes — o que muitas vezes não se confirma.
“Para mim, não mudou nada desde a chegada do Trump, está tudo igual. Aliás, acho até que estou trabalhando mais. E a gente é imigrante e escolheu viver aqui, tem que respeitar as decisões deles”, diz o brasileiro Igor, que atualmente tenta regularizar seu status migratório.
Os debates acalorados entre grupos de brasileiros colocam em lados distintos aqueles que estão com medo e outros que falam que “isso sempre existiu”, numa referência aos números de deportação no governo democrata de Barack Obama, maiores que no primeiro mandato de Trump, por exemplo.
“Mas se isso já acontece sem o presidente falar que vai fazer, imagina com um falando que vai”, resume Ricardo.
* Os nomes foram trocados a pedido dos entrevistados
Governo vai instalar centro de atendimento a deportados pelos EUA

O governo federal vai instalar um centro de atendimento para brasileiros repatriados no aeroporto de Confins, em Belo Horizonte, para receber cidadãos deportados dos Estados Unidos. O anúncio foi feito nesta terça-feira (28/1) pela ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Lula convocou o encontro para receber informações sobre o ocorrido no voo com deportados que pousou em Manaus, na última sexta (24), com relatos de maus tratos aos brasileiros e condições precárias dentro da aeronave.
“Vamos iniciar as tratativas para estabelecer em Confins um posto de acolhimento humanitário, tendo em vista que poderemos ter mais voos previstos”, declarou a ministra a jornalistas após o encontro. “Assim como a gente recebe bem imigrantes e refugiados, mais ainda temos que ter um esforço para acolher os brasileiros que estão sendo repatriados”, acrescentou.
Confins é o destino dos voos com brasileiros deportados dos EUA. O voo da semana passada, porém, parou em Manaus após problemas técnicos e foi impedido de continuar pela Polícia Federal. O episódio mobilizou o governo federal, e o presidente discute quais serão os próximos passos desde ontem (27) com seus auxiliares, além de pedir explicações do governo de Donald Trump.
Macaé afirmou ainda que o governo vai apoiar a inserção dos brasileiros repatriados no mercado de trabalho. Os cidadãos são deportados pelos Estados Unidos por estarem em condições irregulares de imigração. No ano passado, segundo a PF, foram 16 voos com 1.648 brasileiros repatriados.
O chanceler Mauro Vieira também participou da coletiva, e classificou a situação dos deportados como “trágica”. Em sua avaliação, o avião poderia ter sofrido um acidente. Segundo relatos dos passageiros, um dos motores chegou a parar durante o voo, e o ar-condicionado não funcionou.
“O objetivo da reunião, além de transmitir ao presidente o que aconteceu, foi também discutir formas de tratar do tema daqui em diante e discutir com as autoridades americanas que as deportações sejam feitas atendendo aos requisitos mínimos dos direitos humanos”, relatou o ministro.
Chamou atenção a participação do comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro do Ar Marcelo Damasceno, no encontro. Uma das possibilidades ventiladas no governo para garantir o transporte seguro dos deportados seria o uso de aeronaves da FAB.
Questionado, porém, Vieira negou a possibilidade e afirmou que a responsabilidade pelo transporte dos repatriados é dos Estados Unidos, e não do Brasil. Ele também confirmou a participação virtual do presidente Lula em reunião da Cúpula de Estados Latino Americanos e Caribenhos (Celac) na quinta-feira (30), convocada para tratar do tema.
VLT no lugar de BRTs e metrô até o Recreio e sob a baía: conheça os projetos pautados pelos governos

Todas as quartas-feiras a diarista Maria de Jesus da Silva, de 44 anos, que mora no miolo da Cidade de Deus, vai a pé ou de bicicleta até a Estação Merck do BRT, na Taquara, onde embarca até o Jardim Oceânico e, de lá, segue de metrô para Botafogo. Além das filas para entrar no BRT, perde muito tempo na baldeação. Dependendo do dia, chega a levar mais de duas horas até o endereço onde trabalha, e o mesmo tempo na volta para casa. Se a Linha 4 do metrô — que parou no Jardim Oceânico — já chegasse até o Recreio dos Bandeirantes, a vida da diarista seria outra.
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— Também teria que ter mais ônibus para suprir a necessidade do BRT. Só temos um ônibus, o 990 (Merck -Joatinga), que passa perto da Cidade de Deus e vai para o metrô. E, quando passa, a gente nem consegue entrar de tão cheio. E ainda demora à beça — completa a diarista.
O trecho do metrô entre o Jardim Oceânico e o Recreio chegou a ser idealizado para a Olimpíada de 2016, mas empacou durante a grave crise financeira do estado, sendo substituído pelo BRT. Teria cerca de 20 quilômetros e seria escavado sob o canteiro central da Avenida das Américas. Esse e outros projetos de transportes sobre trilhos e no mar, com orçamentos que beiram R$ 100 bilhões, estão em pranchetas, gavetas e promessas dos governos.
A expansão do metrô carioca parou há quase dez anos, quando as obras da Estação Gávea foram interrompidas e o buraco preenchido por água para tentar sustentar a estrutura. Iniciado em 1979, o modal tem 54,4 quilômetros, 41 estações e três linhas. Apenas cinco anos mais velho, o metrô de São Paulo tem 104,4 quilômetros, 91 estações e seis linhas.
Depois de um acordo assinado em outubro do ano passado — envolvendo MPRJ, TCE, governo do Estado, MetrôRio e o consórcio construtor Rio Barra da Linha 4 —, e muitas promessas de recomeço, agora o secretário estadual de Transporte, Washington Reis, diz que a construção da Estação Gávea entra nos trilhos no mês que vem, após assinatura de aditivo com o MetrôRio, que investirá R$ 600 milhões nas obras e terá o seu contrato de concessão prorrogado por dez anos, até 2048. O estado se comprometeu a aplicar R$ 97 milhões e criou um fundo de reserva de R$ 300 milhões para serem usados, se necessário, na estação e na conclusão de um trecho da galeria São Conrado-Gávea.
Além da Estação Gávea
A Linha 4 consumiu até agora cerca de R$ 10 bilhões. E, para celebrar o novo contrato com o MetrôRio, o estado gastou mais R$ 3 milhões: contratou a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) para dar suporte, inclusive no cálculo de tarifa.
Para o presidente do MetrôRio, Guilherme Ramalho, a retomada das obras da Estação Gávea é simbólica e importante. Mas é preciso não parar por aí:
— Mais do que a Gávea, a gente tem que voltar a poder investir. O Rio precisa voltar a ter investimento constante em infraestrutura. A cidade tem demandas grandes no setor de transporte.
O último plano diretor do metrô, de 2017, somado ao Metrô Leve da Baixada (Pavuna-Nova Iguaçu) — prometido pelo governador Cláudio Castro durante campanha para a reeleição —, prevê mais de 178 quilômetros de trilhos, que não saíram do papel. A execução de todos custaria mais de R$ 80 bilhões. Ainda está pendente o trecho de 1,2 quilômetro para ligar o Alto Leblon — onde o tatuzão, máquina para escavar túneis, apodrece sob a Rua Igarapava — à Estação Gávea.
Para completar a nova Linha 4 projetada, seria necessário ainda interligar o Jardim Oceânico ao Recreio. Consta também do projeto original do metrô a Linha 4 passando por Humaitá, Laranjeiras e Botafogo, chegando ao Centro. Da Gávea ainda está projetada uma ampliação até a Rua Uruguai, cortando o Maciço da Tijuca. Especialistas consideram fundamental concluir a Linha 2, levando os trilhos do Estácio até a Praça Quinze, passando pela Cruz Vermelha. Mais uma linha incluída no traçado, a 3, passaria sob a Baía de Guanabara, chegando a Niterói e São Gonçalo.
Na campanha eleitoral, o prefeito Eduardo Paes anunciou que pretende transformar em VLT os corredores do BRT Transoeste e Transcarioca. Pelos cálculos iniciais, segundo disse Paes na ocasião, “veletizar” esses dois corredores exclusivos teria um custo inicial estimado de R$ 16 bilhões. A prefeitura também já fez estudo para implantar VLT ligando Botafogo, Gávea e Leblon, um investimento de R$ 1,5 bilhão.
Outra ideia é a implantação do BRT Metropolitano na cidade, que aparece em decreto no primeiro dia da nova administração Paes. Na prática, a ideia é fazer a integração entre os transportes municipais e intermunicipais. E isso poderá acontecer com a conclusão de dois terminais que constam do Transbrasil, estimados em R$ 100 milhões: o Trevo das Margaridas, que poderia absorver quem vem da Baixada Fluminense pela Via Dutra; e o do Trevo das Missões, idealizado para aliviar o trajeto para quem chega da Baixada pela Rodovia Washington Luís.
No transporte pela Baía de Guanabara, a Companhia Carioca de Parcerias e Concessões (CCPAR), da prefeitura, tenta licitar desde o ano passado uma ligação por barcas entre os aeroportos Santos Dumont e Tom Jobim. O investimento previsto para implantação era de R$ 109,5 milhões. Depois de vários adiamentos, a licitação foi realizada em dezembro, mas não apareceram interessados. A CCPar está refazendo o edital para relançá-lo.
Já a ligação por barca entre São Gonçalo e a Praça Quinze não tem qualquer estimativa de preço. A Secretaria de Transportes do estado informa que novos trajetos de barcas poderão ser criados “de acordo com a demanda de passageiros e a viabilidade econômica e a capacidade operacional”.
De concreto, a curto prazo o que está no horizonte da Secretaria estadual de Transportes é o lançamento de estudo e da modelagem da ligação Estácio-Praça Quinze, da Linha 3 e do metrô entre o Jardim Oceânico e o Recreio. Reis diz que sua meta é lançar a licitação da conclusão da Linha 2 e a implantação da Linha 3 ainda este ano:
— Vamos fazer uma licitação internacional e chamar o mundo para cá. Eu vou dizer uma coisa, se o governo federal atual, com a caneta na mão, não abraçar esse projeto, qualquer outro presidente que vier faz tudo.
Morador de São Gonçalo, o técnico de refrigeração Rodrigo Caetano, de 40 anos, trabalha nas zonas Sul e Oeste do Rio e sonha com a Linha 3 do metrô.
— Já ouvi falar, mas não sei se vai ter mesmo. Meu sonho era que fosse tudo metrô. Não dá para comparar. É rápido, mais barato, mais seguro. Até lá podia ter mais BRT pela cidade toda, cortar um pouco o trânsito — espera.
Transporte sustentável
A ampliação dos transportes sobre trilhos é rota mais indicada também quando o assunto é impacto ambiental. Considerando os deslocamentos da Região Metropolitana do Rio, os modais sobre trilhos são os que menos consomem energia, não emitem gases que aceleram o aquecimento global, como o dióxido de carbono (CO2), e duram pelo menos 60 anos.
— Uma urgência é reduzir o uso de automóvel particular, deveria ser a última opção na movimentação da cidade. Se queima muito combustível para transportar uma pessoa só, promove engarrafamento. Para se ter ideia, um SUV movido a gasolina gasta a energia equivalente a uma viagem de avião de um passageiro — diz Márcio D’Agosto, presidente do Instituto Brasileiro de Transporte Sustentável.
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BNDES vai financiar R$ 2,1 bilhões para Embraer exportar 16 aviões aos EUA

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) comunicou, na manhã desta segunda-feira (27/1), a aprovação do financiamento de R$ 2,1 bilhões para a Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A (Embraer) exportar 16 aviões à companhia aérea norte-americana Republic Airways.
As aeronaves, previstas para serem entregues pela Embraer ao longo deste ano, serão do modelo E-175. O financiamento ocorrerá por meio da linha “BNDES Exim Pós-Embarque”. Nesta operação, de acordo com o banco, o exportador (Embraer) concede ao importador (Republic Airway) um financiamento por meio de carta de crédito ou títulos.
A companhia aérea Republic Airways oferece serviço regular para passageiros com 900 voos diários em mais de 80 cidades nos Estados Unidos e Canadá. A empresa opera com as marcas American Eagle, Delta Connection e United Express.
O BNDES financia exportações da Embraer desde 1997. Ao todo, segundo o banco, cerca de US$ 26 bilhões foram financiados à exportação de mais de 1.300 aeronaves da fabricante brasileira. De acordo com o BNDES, o apoio do banco complementará “o financiamento provido pelo mercado privado”.
“O histórico apoio do BNDES à Embraer contribuiu para transformar a empresa em uma das líderes globais da indústria aeroespacial. A Embraer é a principal exportadora de bens de alto valor agregado no Brasil e mantém mais de 87% dos seus cerca de 21 mil empregos em território nacional”, diz o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, em nota.
Embora seja empresa de capital aberto e negociada em Bolsa de Valores, a Embraer tem o governo brasileiro como principal acionista com poder de veto em decisões estratégicas da empresa.
No último balanço divulgado em 2024, a empresa registrou teve lucro líquido ajustado de R$ 1,18 bilhão. A receita líquida disparou para R$ 9,39 bilhões ante R$ 6,3 bilhões no mesmo período (terceiro trimestre) de 2023.
Embratur torna-se membro do Conselho Mundial de Viagens e Turismo e reforça papel do Brasil de protagonista no turismo internacional

Embratur torna-se membro do Conselho Mundial de Viagens e Turismo e reforça papel do Brasil de protagonista no turismo internacional ( O anúncio simboliza um marco, consolidando o país como protagonista no cenário internacional de turismo. (Foto: Divulgação))
Durante a Feira Internacional de Turismo (FITUR) 2025, uma das mais prestigiadas e influentes exposições de turismo do mundo, a Embratur oficializou sua adesão inédita ao World Travel & Tourism Council (WTTC), o Conselho Mundial de Viagens e Turismo. O anúncio simboliza um marco, consolidando o país como protagonista no cenário internacional de turismo.
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Com mais de 200 membros, o WTTC é uma organização global que representa o setor privado, abrangendo líderes de companhias aéreas, redes hoteleiras, operadoras de turismo e outros segmentos. Ao tornar-se membro, a Embratur reforça o compromisso do Brasil com as melhores práticas do mercado global, alinhando-se às tendências de sustentabilidade, inovação e colaboração internacional.
Presidente da Embratur, Marcelo Freixo, destaca a importância dessa filiação. “Este é um marco para o turismo brasileiro. Nossa entrada no Conselho nos conecta diretamente aos principais players globais, permitindo avançar em direção a um turismo mais competitivo alinhado às expectativas dos viajantes internacionais,” afirma Freixo.
“Estamos posicionando o Brasil cada vez mais como um ator-chave na discussão global sobre o futuro do turismo. Esta parceria reforça nosso compromisso em estabelecer o Brasil como um destino que vê o turismo como uma atividade econômica alinhada aos desafios do século 21, impulsionando o desenvolvimento por meio da sustentabilidade ambiental e da celebração da diversidade humana”, reforça.
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CEO do WTTC, Julia Simpson, pontua a relevância desta parceria para o Brasil e para o setor global de turismo. “É uma honra que a Embratur e o Brasil sejam membros do WTTC, uma organização que reúne os principais atores do mercado privado mundial, especialmente no setor de turismo e viagens. O turismo é um setor fundamental para a economia brasileira”, disse. No caso do Brasil, ela destacou a importância da Embratur, que tem sido fundamental para atrair visitantes ao país, um destino único, repleto de belezas naturais e diversidade. “É um país tão lindo e tão grande, com tantas coisas para descobrir. Estou realmente muito feliz por termos a Embratur como associada”, concluiu.
Benefícios
A participação da Embratur no Conselho Mundial de Viagens e Turismo traz uma série de benefícios e oportunidades para o país. Ao se conectar aos padrões globais de qualidade, o país aumenta sua atratividade de investimentos e fortalece a credibilidade internacional.
A associação ao WTTC também garante acesso a dados e informações para orientar a promoção e o desenvolvimento dos destinos brasileiros. Por meio das pesquisas, relatórios e insights do Conselho, a Embratur terá mais elementos para alinhar a promoção do Brasil às tendências mundiais e terá facilitada conexões com empresas globais, potencializando projetos de infraestrutura e campanhas internacionais.
“A colaboração Embratur e WTTC vai maximizar o impacto das ações de promoção do Brasil em mercados de alta potencialidade, contribuindo para o fortalecimento da imagem do país como destino turístico competitivo com ênfase em experiências autênticas e sustentáveis”, reforça o diretor de Marketing, Negócios e Sustentabilidade da Embratur, Bruno Reis.
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Atribuições
A Embratur, como membro do WTTC, terá o papel estratégico de amplificar a presença do Brasil no mercado global de turismo, atrair parcerias, alinhar-se às tendências globais e promover o país como um destino sustentável e competitivo. Mais do que promover o Brasil, isso contribuirá ativamente em temas que moldam o futuro do turismo internacional.
As ações conjuntas entre a Embratur e o Conselho Mundial de Viagens e Turismo estão em fase de construção. Entre as principais frentes, destacam-se a realização de pesquisas sobre o retorno de investimentos em atividades promocionais internacionais e seu impacto na economia brasileira, além da participação em eventos de networking com líderes da indústria para ampliar parcerias e promover o Brasil nos mercados globais.
A Embratur também apresentará suas estratégias de promoção internacional aos membros do WTTC, participará de mesas-redondas sobre temas relevantes do setor e organizará um webinar sobre sustentabilidade hoteleira.
Programação
Nesta quinta-feira (23), a Embratur intensificou sua participação na FITUR. Além da adesão ao WTTC, o presidente Marcelo Freixo reuniu-se com Sandra Carvao, diretora de Inteligência de Mercado, Políticas e Competitividade da ONU Turismo (UNWTO), onde foi discutido sobre o estímulo à promoção de experiências turísticas no Brasil que priorizam a base comunitária e a sustentabilidade. Entre os tópicos foram abordados as comunidades quilombolas da Bahia, as ribeirinhas do Pará que serão impactadas pelo projeto Peabiru, focado na promoção do turismo em áreas como o quilombo Kaonge.
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Outra agenda fundamental foi o lançamento do programa Brasil Travel Specialist, um programa para tornar agentes de viagens e operadores em especialistas do Brasil. A partir de agora a Embratur tem uma plataforma exclusiva para comunicação com agentes de viagens, em inglês e espanhol. O objetivo é oferecer todo o suporte ao agente de viagem na jornada de venda.
Durante o lançamento no estande, os participantes tiveram a oportunidade de degustar caipirinhas, enquanto o presidente da Embratur apresentou um vídeo explicativo sobre o uso da nova ferramenta destinada aos operadores turísticos estrangeiros, que poderão se inscrever para se tornarem especialistas no Brasil.
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Expedição da Antártica adia retorno para o Brasil

O jornalista Vitor Netto colabora com o colunista Rodrigo Lopes, titular deste espaço.
A Expedição Internacional de Circum-navegação Costeira Antártica adiou a data de retorno ao Brasil. A ideia era de que a tripulação — de mais de 60 pesquisadores de sete nacionalidades — chegasse em território brasileiro no sábado (25), contudo, o navio quebra-gelo Akademik Tryoshnikov só deve chegar ao Brasil entre quinta (30) e sexta-feira (31).
Conforme o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Jefferson Simões, que lidera a expedição, o motivo do adiamento foi apoio logístico prestado a outra parte da expedição, auxiliando aviões que estavam fazendo levantamento geofísico do gelo antártico.
Atualmente, a expedição está no mar de Bellingshausen. Nesta terça-feira (21) foi realizado o último dia de trabalho de campo. O próximo passo é chegar na estação brasileira Comandante Ferraz na sexta-feira (24). Quando chegar em solo brasileiro, a Expedição é dada como encerrada.
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Música inédita de Marília Mendonça e Cristiano Araújo será lançada nesta semana; entenda como | GZH

Uma parceria inédita entre Marília Mendonça e Cristiano Araújo será lançada nesta sexta-feira (24), data em que Cristiano completaria 39 anos. A faixa De Quem É A Culpa? reúne as vozes dos dois cantores em uma música póstuma.
Segundo a gravadora Som Livre, Cristiano Araújo gravou a música em estúdio com a intenção de lançá-la, mas o projeto foi interrompido devido ao acidente que tirou a vida do artista em 2015.
Anos depois, Marília Mendonça foi convidada a participar de uma homenagem ao cantor e aceitou regravar a canção. Os familiares, então, se reuniram e agora lançam a música em homenagem aos dois sertanejos.
“Esse lançamento é um pedacinho de amor e carinho para matar a saudade dos dois, que nunca saem do nosso coração”, destacou uma publicação feita na página oficial da gravadora.
Tragédias que marcaram o Brasil
Cristiano Araújo e a namorada, Allana Moraes, morreram em um acidente de carro em Itumbiara, Goiás, em junho de 2015. O cantor, que tinha 29 anos, era considerado uma das grandes promessas do sertanejo.
Já Marília Mendonça faleceu no dia 5 de novembro de 2021, aos 26 anos, após a queda de um avião bimotor em Piedade de Caratinga, Minas Gerais. A cantora estava a caminho de um show quando ocorreu o acidente, que também vitimou outras quatro pessoas.
Ouça Cristiano Araújo
Ouça Marília Mendonça
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Uma parceria inédita entre Marília Mendonça e Cristiano Araújo será lançada nesta sexta-feira (24), data em que Cristiano completaria 39 anos. A faixa De Quem É A Culpa? reúne as vozes dos dois cantores em uma música póstuma.
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Anos depois, Marília Mendonça foi convidada a participar de uma homenagem ao cantor e aceitou regravar a canção. Os familiares, então, se reuniram e agora lançam a música em homenagem aos dois sertanejos.
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Já Marília Mendonça faleceu no dia 5 de novembro de 2021, aos 26 anos, após a queda de um avião bimotor em Piedade de Caratinga, Minas Gerais. A cantora estava a caminho de um show quando ocorreu o acidente, que também vitimou outras quatro pessoas.
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Música inédita de Marília Mendonça e Cristiano Araújo será lançada nesta semana; entenda como | GZH

Uma parceria inédita entre Marília Mendonça e Cristiano Araújo será lançada nesta sexta-feira (24), data em que Cristiano completaria 39 anos. A faixa De Quem É A Culpa? reúne as vozes dos dois cantores em uma música póstuma.
Segundo a gravadora Som Livre, Cristiano Araújo gravou a música em estúdio com a intenção de lançá-la, mas o projeto foi interrompido devido ao acidente que tirou a vida do artista em 2015.
Anos depois, Marília Mendonça foi convidada a participar de uma homenagem ao cantor e aceitou regravar a canção. Os familiares, então, se reuniram e agora lançam a música em homenagem aos dois sertanejos.
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Incêndios florestais vão ficar cada vez mais intensos e prolongados, alerta cientista da ONU

A cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, é assolada pelos maiores incêndios florestais já registrados na região.
Até a publicação desta reportagem, o Departamento de Silvicultura e Proteção ao Fogo da Califórnia registrava 135 focos de emergência, 12,3 mil estruturas destruídas e 24 mortes.
Mas este episódio está longe de ser inédito.
Ano passado, as chamas se alastraram por vastas áreas do Pantanal e do Cerrado brasileiros.
Anteriormente, grandes incidentes do tipo acometeram lugares como Grécia, Canadá, Austrália e Argélia.
A cientista Amy Duchelle, líder do time de florestas e clima da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO-ONU), avalia que incêndios florestais ficarão cada vez mais comuns e intensos, graças a um círculo vicioso gerado a partir das mudanças climáticas.
Em entrevista à BBC News Brasil, a especialista pede que países e autoridades foquem os investimentos nas políticas de prevenção desses eventos extremos.
Ela também aponta que os esforços para apagar o fogo apresentam cada vez mais limitações relacionadas à intensidade do calor e às próprias condições climáticas.
“Los Angeles vive uma situação devastadora. E vemos que a ameaça de outros incêndios florestais aumenta rapidamente numa escala global, tanto do ponto de vista da frequência quanto da duração”, alerta ela.
“Esse fenômeno está relacionado às mudanças climáticas e às modificações no uso da terra.”
O que explica os incêndios em Los Angeles?
Duchelle aponta que as cenas registradas na cidade americana durante os últimos dias decorrem de uma conjunção de fatores.
“Os incêndios florestais dependem de três ingredientes: material de combustão, tempo seco e uma fonte de ignição”, lista a especialista.
E esse é justamente o trio que engatilhou a emergência em Los Angeles.
“Essa região passa por uma temporada extremamente seca, depois de alguns anos seguidos de alta umidade. Ou seja, houve o crescimento de uma vegetação, que secou e ficou suscetível a queimar”, contextualiza ela.
No caso recente, houve também o auxílio crucial dos ventos de Santa Ana, um fenômeno típico local, que alastrou as chamas e dificultou ainda mais o trabalho das equipes de resgate.
“Há também o componente urbano aqui, já que as cidades estão em expansão e as pessoas vivem em áreas com alto risco de incêndios florestais”, acrescenta Duchelle.
A representante da FAO-ONU lembra que as chamas sempre foram tradicionalmente usadas para o manejo da terra, especialmente por indígenas e comunidades tradicionais.
“O fogo ocorre basicamente em todo território e bioma do planeta, com exceção da Antártida”, destaca ela.
“Não podemos encará-lo necessariamente como uma coisa ruim, já que ele sempre foi uma ferramenta sustentável para lidar com diferentes ecossistemas, desde que bem usado”, pondera ela.
O problema é que a escala e a frequência de grandes incêndios florestais vêm aumentando nos últimos anos.
“Testemunhamos o que acontece em Los Angeles, mas vimos eventos parecidos em anos anteriores no Brasil, no Canadá, na Grécia, na Argélia, no Havaí…”, lista ela.
As próprias projeções das Nações Unidas revelam que incêndios florestais vão crescer 14% até 2030, 30% até 2050 e 50% até o final do século 21.
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Duchelle explica que esse cenário é catapultado pelas mudanças climáticas — e, no caminho reverso, contribui também para o aquecimento da temperatura do planeta.
Ou seja, as alterações no padrão climático global propiciam eventos extremos, como ondas de calor, inundações e secas prolongadas.
Alguns desses fenômenos — como as estiagens — geram uma enorme quantidade de material propício para a combustão, caso de galhos, folhas e troncos secos.
Daí basta uma fagulha para o início do fogo, que se alastra com facilidade e rapidez.
“Na contramão, os incêndios florestais também aceleram as mudanças climáticas ao liberar enormes quantidades de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera”, observa Duchelle.
O CO2 é um dos gases que, por causa da ação humana, se acumulam na atmosfera e geram o aquecimento do planeta.
Um estudo da Universidade East Anglia, no Reino Unido, calcula que os incêndios florestais liberaram meio bilhão de toneladas adicionais de CO2 por ano desde o início do século 21 — e essa taxa vem aumentando a cada nova temporada.
“Estamos num círculo vicioso, que tende a se intensificar ainda mais no futuro”, alerta a especialista.
Uma mudança nos cuidados
Para lidar com esse cenário, a representante da FAO vê a necessidade de alterar o foco — e adotar uma abordagem mais “holística” no combate aos incêndios florestais.
“Há muito a ser feito para lidar com esse cenário”, acredita Duchelle.
“Nossa atenção atual está na supressão dos focos de incêndio. Mas episódios como esse de Los Angeles revelam os limites dessa abordagem. Muitas aeronaves não conseguiram voar, por causa dos ventos intensos. Além disso, há uma falta de água, em razão da estiagem”, exemplifica ela.
A cientista lembra que os custos para combater o fogo são enormes — e seria muito mais custo-efetivo apostar em medidas para prevenir os incêndios.
Segundo ela, a estratégia mais moderna para lidar com esses eventos extremos pode ser resumida em cinco “erres”: revisão, redução de risco, rapidez, resposta e recuperação.
“O primeiro passo é justamente revisar e analisar a situação de cada local, de cada contexto, para entender quais são os riscos de o fogo se alastrar ali”, começa Duchelle.
Feita essa avaliação inicial, vem a etapa dois, de redução dos riscos: tomar as ações necessárias para justamente impedir o aparecimento das chamas.
Pode ser necessário, por exemplo, remover parte do material combustível ou jogar água para umidificar certos lugares que apresentam maior risco.
Aqui também há uma necessidade de criar programas educativos e campanhas de conscientização, para evitar que as pessoas façam fogueiras ou criem, mesmo sem querer, fontes de ignição que ganham proporções monumentais.
“O terceiro ‘erre’ envolve a prontidão [readiness, em inglês] para responder. Mesmo com um plano de prevenção bem estruturado, incêndios inevitavelmente vão ocorrer”, pontua Duchelle.
Portanto, é necessário ter um sistema preparado para identificar os focos das chamas rapidamente e mobilizar equipes que vão lidar com o problema antes que ele se alastre.
“O quarto ponto, que está em andamento agora em Los Angeles, é onde costuma se concentrar a maior parte da atenção: a resposta aos incêndios”, diz a especialista.
“Por fim, o quinto está justamente em recuperar a terra e promover a restauração dos ecossistemas e das áreas urbanas. Esse é um ponto extremamente crítico e que gera grandes custos”, complementa ela.
Duchelle entende que há um grande esforço de órgãos internacionais, como a própria FAO, em promover uma mudança de foco e investir cada vez mais nos três primeiros “erres” dessa história.
“O combate aos incêndios é algo que deve acontecer durante o ano inteiro, não apenas nas temporadas de seca, e todo mundo precisa contribuir”, acredita ela.
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Brasil como referência
Questionada sobre as grandes queimadas registradas no Brasil nos últimos anos, Duchelle entende que o país tem se organizado para lidar melhor com essa questão.
“O Brasil fez grandes esforços para diminuir o desmatamento na Amazônia recentemente, e provavelmente os incêndios poderiam ter sido ainda piores caso a floresta continuasse no mesmo ritmo de destruição registrado anteriormente”, avalia a especialista, que morou no Acre e no Rio de Janeiro durante dez anos.
A representante da FAO também destaca a criação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo, lançada em 2024 pelo Governo Federal.
“Isso representa exatamente o que defendemos como uma maneira holística de lidar com as queimadas, com um foco importante nas medidas preventivas”, elogia ela.
“A política brasileira também se destaca por acolher diferentes setores da sociedade, como indígenas e comunidades tradicionais.”
“Há muito o que aprender sobre o manejo da terra com esses indivíduos, e o Brasil se apresenta como uma liderança nesse aspecto”, complementa ela.
A especialista também chama a atenção para as políticas de Portugal.
“Em 2017, esse país sofreu incêndios florestais devastadores e, desde então, desenvolveu um plano de dez anos para lidar com o problema”, exemplifica ela.
“Nesse meio-tempo, Portugal criou um programa de manejo do fogo bem integrado e virou um grande parceiro em escala global.”
Por fim, Duchelle destaca a “absoluta necessidade” de pensar em novas maneiras para lidar com o cenário das queimadas em escala global.
“Falamos de enormes tragédias, que têm um custo para a economia, para a infraestrutura, para a biodiversidade e para a saúde humana”, conclui ela.