Jorge Viana: “Tenho que ter um certo pragmatismo. Negócios à parte”

Washington – O Brasil quer voltar a ficar entre as prioridades dos Estados Unidos, segundo maior destino das exportações nacionais. E, para traçar essa estratégia, o presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), Jorge Viana, participou de uma maratona de reuniões para mostrar uma visão pragmática na forma de fazer negócios entre os dois países.

Em meio ao início da corrida eleitoral nos Estados Unidos, Viana ressaltou que o atual governo não pretende cometer os erros do anterior nas relações internacionais, mantendo as relações comerciais independente de quem comandar a Casa Branca.

“Como presidente da Apex, mesmo eu já tendo ocupado cargos importantes na política, tenho que ter um certo pragmatismo. Negócios à parte, né? É claro que eu tenho, todo mundo tem direito de ter suas preferências. Mas quando você está numa função como a nossa ou quando você está liderando um país como o Brasil, você não pode incorrer no erro que o governo passado incorreu por conta de preferências com a Argentina, com a China, e com o próprio Estados Unidos”, afirmou, nesta sexta-feira (15/3), em entrevista a jornalistas, ao lado de Uallace Moreira Lima, secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).

O ex-senador petista lembrou que o Brasil perdeu negócios importantes, deixou de estar presente no mundo por conta de posicionamentos ideológicos. “Isso não pode acontecer. As questões políticas que os países têm precisam ser vistas com naturalidade. A gente tem que separar bem as oportunidades comerciais, e tem que ser trabalhada independente do resultado das eleições. Isso vale para a Argentina. Isso vale para os Estados Unidos. Tem que valer para a Venezuela, tem que valer para qualquer um outro país, para a Rússia, enfim, isso é o que eu penso e acho que o presidente Lula também”, acrescentou Viana.

Segundo ele, o governo está empenhado para atingir a meta do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de atingir US$ 1 trilhão na corrente de comércio até o fim do mandato. “Quando Lula assumiu o primeiro mandato, o fluxo de comércio exterior do Brasil era de US$ 100 bilhões e, quando ele entregou o governo, em 2010, as exportações e as importações somaram US$ 400 bilhões, foi um salto extraordinário que ajudou a compor as reservas internacionais em mais de US$ 300 bilhões”, destacou. Nos últimos 14 anos, lembrou ele, esse fluxo chegou a US$ 600 bilhões.

“E, agora, temos que trabalhar com o propósito de alcançar US$ 1 trilhão. O Brasil, hoje, é um grande exportador de petróleo e o mundo ainda consome petróleo. Isso está pesando muito na balança comercial do Brasil. O país também é um grande exportador de commodities agrícolas e de minerais também, mas temos o propósito de o país voltar a ser referência na exportação de manufaturados, e só se faz isso priorizando a indústria da transformação no Brasil”, disse Viana.

Ao fazer um balanço no encerramento do quarto dia do encontro com representantes de Setores de Promoção Comercial (Secoms) e com secretários de Ciência, Tecnologia e Inovação (Sectecs) e de Agricultura dos Estados Unidos e do Canadá, em Washington, Viana reconheceu que há muito trabalho pela frente. “O Brasil está de volta ao jogo e vamos montar uma estratégia objetiva”, afirmou.

Segundo Viana, a embaixadora do Brasil nos Estados Unidos, Maria Luiza Viotti, está empenhada nesse sentido e o país, no momento, está vivendo uma confluência de astros que pode gerar algo produtivo para o país. Ele lembrou que a Apex já identificou 970 produtos com potencial de serem comercializados nos EUA, com potencial de aumentar as exportações do Brasil para o mercado norte-americano, que somaram US$ 36,9 bilhões no ano passado. “O trabalho foi muito produtivo e vamos subir o sarrafo. Com orçamento e metas estabelecidas, estamos falando em trabalhar na maior economia do mundo e no Canadá, que é um país incrível, cheio de oportunidades. Temos um presidente decidido a isso”, frisou.

O presidente da Apex e o secretário do Mdic lembraram também que uma das oportunidades de negócios, considerando a indústria nacional e a transição energética, está no desenvolvimento do hidrogênio verde, o biocombustível e o combustível sustentável de aviação, o SAF.

“O Brasil tem um potencial para o SAF que poucos países têm no mundo”, destacou Viana, lembrando que a Embraer é a terceira maior indústria de aviões do mundo, com mais de 1 mil jatos comerciais voando nos Estados Unidos transportando mais de 5 milhões de passageiros.

“A janela de oportunidade da nova fronteira tecnológica, que muitos chamam de indústria 4.0 e da transição energética, talvez seja uma das maiores e grandes oportunidades que nós temos”, afirmou ele, citando os projetos em curso no Congresso Nacional para a regulamentação do mercado de carbono, como alguns dos avanços nessa área e no desenvolvimento de carros híbridos. “O Brasil é líder com o carro flex e pode, daqui em pouco tempo, possamos ter o avião flex daqui a pouco tempo”, disse ele, lembrando que os testes com aviões movidos a SAF estão em curso. “Um dos mais graves problemas de emissões no mundo, hoje, é como substituir o combustível da aviação. E o Brasil, eu afirmo, vai ser líder nesse processo, porque já tem um acúmulo enorme. Já temos aviões da Embraer em teste com esse combustível e tem sido um sucesso. Acho que está aí a era do avião flex graças ao Brasil”, apostou.

De acordo com o secretário do Mdic, após a apresentação da nova política industrial do governo, com vários programas e R$ 300 bilhões em linhas de crédito para o fortalecimento da indústria e estimular o setor produtivo, as montadoras já anunciaram R$ 93,6 bilhões em novos investimentos no país. Com base em estimativas da Associação Brasileira de Veículos Automotores (Anfavea), ele informou que esse montante deve chegar a R$ 117 bilhões.

Viana adiantou que, a pedido do presidente Lula, a entidade está organizando um encontro de empresários na Colômbia em abril. “Estamos construindo uma proposta, porque existem oportunidades de negócios que precisam ser ampliadas entre os dois países, em vários setores”, afirmou. Segundo ele, se a Argentina não se cuidar, a Colômbia poderá ultrapassar o país vizinho como principal parceiro comercial do Brasil na América do Sul. “O evento não vai ser apenas para ampliar a presença de empresários brasileiros na Colômbia. Temos que ampliar também a presença colombiana no Brasil”, pontuou.

Além dos encontros com empresários e representantes comerciais ao longo da semana, Viana também sinalizou a intenção de firmar parceria com o Atlantic Council, think tank norte-americano, para um novo estudo para identificar oportunidades de negócios do Brasil nos EUA, especialmente, nesse momento em que o país está na presidência do G20 – grupo das 19 maiores economias desenvolvidas e emergentes mais a União Europeia.

*A jornalista viajou a convite da Apex Brasil

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